The Project Gutenberg EBook of O Cerco de Corintho, poema de Lord Byron, traduzido em verso portuguez, by George Gordon Byron This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included with this eBook or online at www.gutenberg.org Title: O Cerco de Corintho, poema de Lord Byron, traduzido em verso portuguez Author: George Gordon Byron Translator: Henrique Ernesto de Almeida Coutinho Release Date: August 31, 2010 [EBook #33592] Language: Portuguese Character set encoding: ISO-8859-1 *** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK O CERCO DE CORINTHO, POEMA *** Produced by Pedro Saborano Nota de transcrição: Foi mantida a grafia usada na edição original de 1839, tendo sido corrigidos apenas pequenos erros tipográficos evidentes. O CERCO DE CORINTHO, POEMA DE LORD BYRON, TRADUZIDO EM VERSO PORTUGUEZ, POR _H. E. A. C._ PORTO. TYPOGRAPHIA COMMERCIAL PORTUENSE. LARGO DE S. JOÃO NOVO N. 12. 1839. AO ESTIMAVEL ANONYMO. _Alma prestante, onde reside e impera O Genio da Amizade, Que a luminosa esfera Deixou, para acudir á humanidade, Sumida em pesadumes e agonias, Em feia escuridade! Alma onde o typo eterno não se encobre, E que, n'estes d'egoismo ferreos dias, O instante de ser util só vigias, Sincera, affavel, nobre! Acceita, em oblação a ti votado, Ancioso de agradar-te, este traslado._ Henrique Ernesto d'Almeida Coutinho. _O TRADUCTOR,_ Para perpetuar a gloria do sublime poeta que tanto enriqueceo a sua patria e o mundo literario com o preciosissimo cabedal de suas producções, bastaria esta de que emprehendemos e agora publicamos a traducção. Sciencia dos tempos e dos costumes, vasta erudição, profundo conhecimento do homem, variedade e magnificência de quadros, fecunda elevação de pensamentos, lustre e vigor de poesia, sobresahindo por effeito da mais acertada e judiciosa distribuição, eis os titulos com que se engrandece este poema, onde lord Byron não houve mister longo espaço para mostrar-se, immortal. Não é raro tecerem os traductores sobejo encomio ainda a mediocres originaes, quando com estes despendêrão vigilias e desvelos; mas nem por isso receamos que, elogiando a lord Byron, nos accusem de encarecimento ou de leviandade: as suas obras ahi estão bem patentes, e a sua reputação é já colossal. Todavia, notando a mui sincera affeição que consagramos a tão estremado engenho, ninguem haja de persuadir-se que o avaliamos como isento de toda a mácula. Por certo que lord Byron era homem, e o fragil da humanidade transparece em algumas das suas producções, e ás vezes procura brilhar em detrimento daquella gentil gravidade que mui bem assenta nas Musas, e sem a qual desmentem ellas a sua origem celeste; mas de semelhante desar campea livre o poema que apresentamos traduzido.--Só de passagem mencionaremos um descomedido orgulho nacional[1], um amor á liberdade, que por vezes degenera em fanatismo: estes sentimentos os bebeo o poeta com o primeiro alimento de sua infância, e, quando concentrados em justo limite, são nobres, e longe estamos de criminá-los. Não menos que lord Byron admiramos os grandes capitães Gregos e Romanos; tambem nas escolas estudamos e traduzimos Nepote, Tacito, Tito-Livio, &c. Todavia os heróes n'essas historias memorados viverão em tempos mui diversos dos nossos, e diversissima foi a sua educação fisica e moral: por tanto o joven enthusiasta hodierno que ambiciona a todo o custo igualá-los, arrisca-se a cometter mil despropositos, e mesmo a ser victima inutil de suas desattentadas proezas. Para morrer com gloria no desfiladeiro de Thermópylas, cumpre, além de haver sido educado em Esparta, ter á frente um Leonidas. A prudencia de Fabio transtornou os planos de Annibal e salvou Roma, conseguindo aquillo mesmo que fôra denegado ás fastuosas e arrogantes ousadias de Sempronio e de Flaminio. Do sacrificio de Curcio, despenhando-se armado e com seu proprio cavallo no boqueirão aberto por um terremoto em certa praça de Roma, que proveito recolhêrão os concidadãos, a patria, ou a especie humana? Curcio era pois um esquentado enthusiasta, ou antes um orate rematado. É indubitavel que a cega ambição de figurar com heroismo Grego ou Romano, associada ao sofrego ardor não sei de que liberdade turbulenta, insidiosa, desmoralisadora, e de mais pernicioso effeito que qualquer desmascarada tyrannia, tem excandescido bom numero de cabeças e avultou de sobejo na mui abalisada revolução de França, que ainda hoje em sangrentas paginas aterra a humanidade.--Talvez o amor que sempre tributamos á verdade nos levou em demasia longe; mas como quer que seja, não cessaremos de confessar que o sublimado engenho de lord Byron nos penetra de admiração, e deixa, ao menos em nosso alvitre, o homem justificado pelo poeta. Quanto á nossa traducção, sobre diligenciarmos que portugueza fosse, pozemos todo o cuidado em exprimir com clareza os pensamentos do poeta, bem como em não deteriorar-lhes a nativa gala, que antes nos parece mais pomposa n'este nosso fertil e sonoro idioma: entretanto não é por nossa conta que deve correr a cabal decisão na materia, mas sim por conta de mais competentes juizes, que, versados nas duas linguas, queirão dar-se ao trabalho de cotejar o original com a versão. Entre os nossos traductores poetas, alguns houve que gemêrão sob a ferrenha tarefa de traduzir tragedias e longos poemas verso por verso; mas que resultou de tanta diligencia? o substituirem, pela maior parte, a versos fluentes e vigorosos uma enfiada de semsaborias, de durezas, de enigmas, onde a graça e louçania dos originaes degenera em rugosa e desalinhada velhice. Não negamos que isso tenha cabimento e deva adoptar-se quando nenhum inconveniente o estorva; porém o verter affincadamente poemas inteiros verso por verso, é uma curiosidade que em muitos casos empece á nobre franqueza do estilo, á suavidade do metro, e ao effeito geral dos quadros poeticos. Estamos persuadidos de que deve o traductor de um poema ser sempre fiel á quantidade das idéas, não assim á quantidade dos versos: tal foi o nosso systema de traducção no _Cêrco de Corintho_. Ardua e mui ardua emprêsa é traduzir poetas; bem o sabemos e experimentamos. Se todavia para traduzir lord Byron de nada mais se carecesse que de estar profundamente penetrado das extraordinarias e sublimes bellezas com que este filho da immortalidade abrilhantou suas obras, então nos lisonjeariamos de apresentar a nossos leitores uma copia digna do original, e preciosa para elles. [1] Este orgulho se deixa ver bem claro no _Childe Harold's Pilgrimage_, cant. I.º est. 16, onde, entre outros motejos com que o poeta pertende aviltar os Portuguezes, tambem lhes exprobra o serem _A nation swoln with ignorance and pride._ Nação inflada d'ignorancia e orgulho. Quererá isto dizer que a Inglaterra é um paiz todo cheio de sabios, e onde o orgulho morre de frio, por falta de quem o aquartele? O CERCO DE CORINTHO. I. Longo trilho de seculos exhaustos, Rijas tormentas, bellicos furores, Infestárão Corintho: ella entretanto Persiste em pé, e no alteroso alcáçar Nova conquista á Liberdade off'rece. Nem bramir de tufões, nem terremotos O alvejante penhasco lhe abalárão, Esse lageoso assento, que, em despeito Da decadencia sua, inda parece Não sem orgulho contemplar seu cimo; Esse padrão demarcador erguido Entre os dous mares, que d'um lado e d'outro Lhe estão rolando purpurinas ondas, Que sempre a forcejar por se reunirem, O acatão sempre, e vem morrer-lhe ás plantas. Se o sangue n'estes sitios derramado Desde que n'elles o fraterno sangue Timoléon vertêra, ou desde quando Pelo aviltado despota da Persia Abandonados forão, borbulhasse Da terra que o bebeo no morticinio, Este sangrento oceano sepultára Sob os tremendos escarcéos todo o isthmo: Ou se podessem amontoar-se os ossos Dos que alli perecêrão, surgiria Por entre aquelles ceos abrilhantados A colossal pyramide espantosa, Dando rival á Acrópolis, que as nuvens Se vê roçar co'a torreada fronte. II. Eis lanças vinte mil sobre as espaduas Do nebuloso Citherón fulgurão; E em toda a planta do isthmo, sobre as duas Oppostas praias que o ladeão amplas, Se eleva o pavilhão, brilha o Crescente Nas federadas linhas Musulmanas; E o tisnado Spahí desfila em bandos Á vista dos Bachás amplo-barbados; E os olhos podem ver ao longo e ao largo As cohortes cingidas do turbante, Que o promontorio alastrão, enxameão: Lá se ajoelhão do Arabe os camelos, Do Tartaro os ginetes la volteão; Dando de mão á grei, o Turcomano Prestes unio ao lado a cimitarra. Dos bellicos trovões crebro rebombo Té faz emmudecer, de susto, os mares, Profunda-se a trincheira, e muito longe Silvando vôa no pelouro a morte; Sob o peso da bomba assoladora, Soltão-se em pulverento remoinho Os da muralha esboroados lanços; E, do recinto d'ella, eis o inimigo Ás do Infiel intimações responde Com manejo expedito, e fogos destros. Que vão cruzando os empoeirados plainos, E os ares que anuvia o fumo em rôlos. III. Das muralhas porém o mais visinho Entre os que punhão peito e mãos á empresa De as converter em ruina, o mais profundo Que nenhum dos da prole Musulmana Nas da guerra artes tétricas, e altivo Qual nunca o foi assignalado chefe Colhendo louros em sangrentas lides; O que voando audaz de posto a posto, D'um feito a maior feito, se avantaja Em destro esporear corsel fumante, Em surdir mais veloz onde arde o p'rigo, Cada vez que ha sortidas ou assaltos; E quando a bateria, em mãos valentes, Resiste inexpugnavel, então mesmo Com exultante aspecto desmontando A dar alento, na refrega, aos tibios; O mais abalisado e o mais recente Da hoste que lucrou n'estas paragens Ao sultão de Stamboul renome egregio; O guia incomparavel em campanhas, Ou solerte assestando o ferreo tubo, Ou manejando a temerosa lança, Ou tufão que rebenta onde ha conflictos,-- É Alp, o Veneziano renegado! IV. O renegado de Veneza!--ah! elle De vetusta linhagem primorosa Teve o seu nascimento: todavia, Desterrado a final do patrio ninho, Contra os concidadãos tomou as armas, Em que por elles adestrado fôra; E orna-lhe a fronte rasa hoje o turbante. Depois d'eventuaes destinos varios, Sob a lei que Veneza lhe dictára Se acolheo, como a Grecia, então Corintho; E ei-lo que ante seus muros se apresenta, Inimigo entre os feros inimigos Da Grecia e de Veneza, e trasbordando De resentido ardor, qual excandesce Ao joven convertido a alma orgulhosa, Onde duestos mil accumulados Estão sempre em tumulto, e eternos vivem. Nem por isso com elle quiz Veneza Desempenhar o civico appellido Em que firmava o seu brazão = A LIVRE; = E de São Marcos no palacio excelso, Delatores incognitos lançárão Na _Boca do Leão_, durante a noite. Denuncia atroz de requintados crimes, Que o cobrião de macula indelével: Salvou seus dias pressurosa fuga. Desde esse lance despendia a vida No meio dos combates, demostrando Bem claro á patria o que perdeo no alumno Que contra a Cruz, já supplantada, erguia O soberbo Crescente, e, guerreando, Só vingar-se ou morrer buscava ancioso. V. Coumourgi--aquelle que impôz termo aos feitos, O ultimo perecendo, e o mais pujante, Lá nos de Carlowitz sangrentos plainos, Sem magoa de morrer, porém, raivoso, Dos Christãos maldizendo inclitos louros, E d'Eugenio adornando o grão triunfo; Coumourgi--e por ventura a gloria d'este Conquistador da Grecia derradeiro Poderá perecer, senão surgindo Braço Christão que restitua á Grecia Sequer os fóros que gozou outr'ora Por Veneza outorgados? Elle vinha, Já depois de volvidos lustros vinte, Reintegrar a Othomana prepotencia; E, os veteranos seus pospondo agora, Para mandar do exercito a vanguarda Alp escolheo, que a confidencia summa, Arrazando cidades, lhe pagava, E mostrando em façanhas destructoras O seu zeloso affêrro á nova crença. VI. A muralha enfraquece: de continuo As Turcas baterias lhe varejão O parapeito e ameias; restrugindo, Sahe de cada canhão a voz do raio: Aqui flammeja, ao rebentar da bomba, Crepitante zimborio; além baquea Este, est'outro edificio derrocado, Sob o espesso granizo d'estilhaços, Que em lufadas volcanicas recresce: Vai resfolgando em rúbidas columnas Voraz incendio, que tão alto sobe, Como sobe o fragor da ruina ingente, Ou solta-se em terrestres meteoros Que vão no ceo esvaecer-se infindos: Mais nebuloso, mais impervio o dia Se torna á luz do sol, co'a mole opaca Do fumo alçado em tortuosos rôlos, Que d'enxofrado horror a esfera enlutão. VII. Nem sómente ardor cego de vingança, Que a longa dilação fez mais ferino, Esporeára esse Alp apostatado Á adestrar os guerreiros Mahométas N'arte de abrir a promettida brecha. D'aquelles muros no recinto havia Uma donzella, cuja mão formosa Elle obter pertendia apesar mesmo Do inexoravel pai, que, furibundo, Aos rogos lha negou, quando Alp outr'ora, Chamando-se Lanciotto, o bafejavão Tempos melhores, mais propicios fados; E sem nota e sem crime de perfidia, Aos palacios, ás góndolas levando Alegria vivaz, se assignalava Nos Carnavaes, ou resoar fazendo Sobre aguas do Adria esses descantes meigos Que alvoroçadas de prazer escutão Á meia-noite as Italas donzellas. VIII. Que do seu coração já possessora Não fosse a virgem, suspeitavão muitos; No em tanto d'infinitos requestada, E a nenhum acolhendo, persistia De todo o laço conjugal isenta A juvenil Francina: e desde o instante Em que das Adriaticas paragens Se retirou Lanciotto a pagãos climas, O sorriso expirou nos labios d'ella; Meditabunda e pallida tornou-se; Confissões amiudava, e já não era Tão vista em mascaradas e assembleas; Ou, se lá ia, os olhos seus descidos Avassalavão, n'um volver furtivo, Mil corações de balde suspirosos: Nenhum objecto contemplava attenta; Não punha em atavios tanto apuro, Nem já tão terno desprendia o canto; Seus passos, bem que leves, o erão menos Que os dos parceiros seus, a quem na dança Colhia absortos o raiar d'aurora. IX. D'um sólo aos Musulmanos arrancado, Quando a soberba lhes calcou Sobieski Ante os muros de Buda, ás margens do Istro; D'um sólo que depois Veneza altiva Empolgou com violencia desde Patras Té a Euboica enseada, o regimento, Por ordem sup'rior, tomou Minotti; E de Corintho na torreada estancia Já elle era do Doge o delegado, Quando os olhos da Paz fagueiros, pios, Depois da larga ausencia, confortavão C'um sorriso dos seus a Grecia sua, Inda não rôto esse armisticio trêdo Que ao jugo anti-Christão a subtrahia. Entrou Minotti alli co'a filha amavel; E desde o tempo em que a formosa Helena, Deixando o esposo e a patria, fez ver quantos D'um illicito amor desastres brotão, Nunca estas praias adornou belleza Digna de comparar-se á da estrangeira. X. Em crebros boqueirões abre-se o muro; E sobre as ruinas da alluida mole Vai, á primeira luz, desenvolver-se Assalto mais que todos formidando. Tropas enfileirarão-se; escolhidos Forão para formar toda a vanguarda Tartaros e Othomanos; e vós outros, Flor dos guerreiros, a quem foi sem causa Imposto o sobrenome de _perdidos_, E para quem a morte e riso, é jôgo; Vós, que co'alfange em punho abris caminho, Ou de vossos cadaveres juncando A que o braço rompeo vereda honrosa, Sois marmoreo degráo, por onde affoutos Os socios trepão,--morrereis mais tarde! XI. É meia-noite: a fria lua ostenta O disco inteiro, e amplo fulgor diffunde A contrastar co'a sombra das montanhas; Traja d'azul o mar, d'azul se veste O firmamento, este suspenso oceano, Todo cravado d'ilhas que refulgem Lá tão remotas, com ardor tão vivo: E quem, quem póde attento contemplá-las, E repascer depois os olhos tristes No valle dos mortaes, sem que apeteça Voar e unir-se para sempre a ellas? Dormem as ondas, n'uma praia e n'outra, Placidas e ceruleas como os ares; Só de leve as areas roça a espuma, Com murmurinho igual ao d'um regato. Os ventos se recostão sobre as ondas; E das hastes ao longo quietas pendem, Em pregas conchegando-se, as bandeiras, Que remata arci-fúlgido Crescente. Nada interrompe esta mudez profunda, Senão além a voz da sentinella Reproduzindo a senha, ou lá mais longe Relincho de corseis agudo e crebro, Ou écos que respondem dos outeiros, Ou da hoste bravia o rumor vasto, Que semelhante ao de agitadas folhas Alongando-se vai de praia a praia, Ou preces usuaes que á meia-noite Levanta o Muezzin, rasgando os ares Co'a lamentosa garganteada lôa, Qual 'spirito que vaga na planicie: Melódicos accentos, mas prantivos, Quaes os produz o vento, que, passando, Encontra as cordas de sonoras harpas, E extrahe descompassadas harmonias, Que não conhece o menestrel mundano. Este som se affigura aos sitiados Grito agoureiro da infallivel queda; Elle fere no ouvido aos sitiadores Como indicio aziago e pavoroso, Repentina toada indefinivel, Que os corações lhes paralisa agora, E logo os faz pulsar mui apressados, Co'a vergonha de haver surdido n'elles Tão desusada sensação furtiva: Dest'arte o sino apregoador da morte Nos sobresalta de repente ouvido, Inda que seja em funeral d'estranhos. XII. Calou-se o som, a rogativa é finda; As sentinellas em seus postos velão; Foi a nocturna ronda percorrida, E em tudo as ordens satisfeitas todas. Tem Alp o seu tentorio sobre a praia, E em ancias vai curtir inda esta noite; Mas bem póde a manhã suavisá-las, Na fruição das vantagens tão copiosas Com que o amor e a vingança hão de reunidos Demora indemnisar tão prolongada. Horas poucas lhe restão, e carece De repousar, por que expedito esteja Ás proezas da crástina matança: Mas baralhados, quaes estuantes vagas, Os pensamentos lhe reluctão n'alma. Sem repouso e só elle em todo o campo; Nem sente o coração entumecer-lhe Fanatica vangloria blasonante De ver pelo Crescente a Cruz calcada, Ou de vender seus dias mui baratos, Seguro de gozar no paraiso O sempiterno amor das Houris bellas; Nem se sente abrazar d'aquelle austero Patriotico ardor que de bom grado Supporta árduas fadigas, verte o sangue. Quando peleja sobre o chão nativo, Elle não era mais--que um renegado. Ora verdugo da trahida patria; Elle não era mais que um peito forte, Um braço acreditado entre o seu bando. Seguião-no, por que era valeroso, E já lhes grangeára espolio grande; Davão-lhe acatamento, por ver quanto Elle sabia captivar do vulgo As vontades, e arteiro dispôr d'ellas: Mas nem por isso lhe entejavão menos O Christão nascimento: inveja influe-lhes A propria fama atreiçoadora que elle Ganhára sob um nome Musulmano: De qualquer modo, esse esforçado chefe Vil Nazareno foi na juventude. Não lhes era sabido té que ponto É capaz de curvar-se o orgulho, quando Murcho e aviltado o pundonor baquea; Não lhes era sabido quão violenta Chamma voraz em corações se accende Que de meigos tornarão-se bravios; Ignoravão qual zêlo de vinganças Refalsado e fatal se gera e cresce D'um convertido n'alma. Elle os regia: Póde um homem reger outros peores, E de ser o primeiro gloriar-se. Taes os leões sobre o jakal dominão: Destro o jakal espia e abate a prêsa; Mas, no apertão da rugidora turba, Da-se por pago, se devora os restos. XIII. A cabeça lhe ferve, e apressuradas As arterias palpitão-lhe convulsas; D'um lado e d'outro volta-se, baldando Modos de repousar; e se dormita, O som mais leve, o mais pequeno abalo Prestes o acordão angustiado em dôbro. A fronte excandescida lhe molesta Hoje o turbante, e, nem que plumbea fosse, A loriga lhe pesa sobre o peito, Se bem que tanta vez, e a somno solto, Sob esse mesmo pêso repousasse, Tendo apenas por leito um chão saibroso, E por docel o firmamento apenas, Leito e docel quaes ao guerreiro a noite Agora os deparou. Elle nem póde No seu tentorio adormecer, nem quieto Esperar que desponte a luz diurna, E eis vaga ao longo da arenosa praia, Alastrada de tantos que repousão. Quem os acalentou? e por que causa Ha de elle só velar, despossuido D'um bem que logrão rasos subalternos, A quem cabe arrostar maiores p'rigos, E lidas superar mais affanosas? Mas ah! que um sonho animador lhes pinta Os lucros todos do futuro espolio; E em quanto mil e mil passão dormindo Esta que a noite extrema é talvez d'elles, Alp, em vigilia atroz, vaguea anciado, E lhe é alvo d'invejas quanto encontra. XIV. Vai na aprazivel fresquidão da noite Achando refrigerio ás ancias d'alma. Relentoso ora o ceo, bem que tranquillo, As affogueadas faces lhe aspergia Com brando orvalho. Apóz lhe fica o campo; De fronte lhe serpea, derramado Em crebros surgidouros e enseadas, O golfo de Lepanto; está-lhe á vista A de Delphos montanha sempiterna, Onde os gêlos accrescem, brilhão, durão, De mil estios affrontando a ardencia, Campeando no golfo, e serro, e clima, Sem que os dissolva, como a nós, o Tempo. Desapparecem o tyranno e o servo, Improprios a aguantar fulgente raio; Mas este véo deslumbrador e fragil, De que vês envolvido o monte excelso, Quando torres baqueão, jazem troncos, Lá brilha sempre no empinado alcáçar; Pileo na fórma, nuvem no elevado, Na côr e na amplidão lançol funereo, Erguido a designar que a Liberdade Se ausentou da mimosa estancia sua, E hoje languida jaz no mesmo sólo, Onde foi largos tempos escutado Seu profetico ardor em aureos versos. Oh! que de quando em quando inda lá sôão Os passos seus sobre arescentes campos, Sobre tantos altares demolidos; E ella, um a um mostrando aquelles restos Abonadores da passada gloria, Alentar busca os animos prostrados: Porém de balde bradará, em quanto Não despontar n'um coração preclaro Destimidez possante, toda accesa Ao clarão d'esses dias que luzírão Sobre a fuga do Persa, e que risonhos O intérito arrostárão do Espartano. XV. Inda que fugitivo e criminoso, Alp admirava as inclitas virtudes D'esses tempos heroicos; e esta noite, Em quanto vagueava, e na memoria O presente e o passado revolvia, Apreciando as mortes gloriosas Dos que em defensa da genuina causa Seu sangue alli vertêrão, mui bem sente A que ponto é fallaz, mesquinha, obscura Quanta fama lucrou d'um bando á frente, E, nefario traidor, brandindo a espada Entre as turmas cingidas do turbante, Que raivoso guiára a injusto assedio. Onde era em cada prospero successo Não menos computado um sacrilegio. Taes não lhe mostra a fantasia os chefes, Por quem aquelle pó que o circumdava Fôra illustrado, e que as phalanges suas Perfilavão no plaino, não de balde Então de baluartes guarnecido. Estes morrêrão escudando a patria, E eternos vivem no fulgor da gloria: Suspirar-lhes alli os nomes gratos Inda parece a brisa; alli seus feitos Sôão no murmurinho das correntes; Povôa seu renome aquelles campos; O pilar taciturno, ermo, alvacento, Demanda aos sacros vultos alliar-se; Os espiritos seus em tôrno girão Dos fuscos serros; a memoria sua Toda se espelha no cristal das fontes; O arroio humilde, o caudaloso rio Perennes fluem co'a perenne fama Dos estremados campeões sublimes. Por mais que a opprima um jugo, é esta sempre A patria d'elles, e a mansão da gloria! A Grecia!--ha de levar sempre este nome Um som despertador ao Mundo inteiro. Varão que aspira a perpetrar façanhas, Lá põem na Grecia o fito, e abjura as normas Que sómente os tyrannos sanccionárão; Para lá olha, e se arremessa aonde Conquiste a Liberdade, ou deixe a vida. XVI. Sempre assim meditando silencioso, Alp ao longo da praia os passos move, E com brando rocio a noite o ameiga. Coarctados e sem ésto, aquelles mares Em moto igual ondeão sempiternos, E a vaga que possuem mais furiosa Nem um quarto de geira ao sólo invade; E ou se mostre, ou se esconda, ou mude as phases, Não tem sobre elles influencia a lua: Mansos, tumentes, no alto, na enseada, Do dominio lunar se movem francos. O escolho immovel, descobrindo a base, Olha ao largo, e de balde espera as ondas: Póde ver-se a que o cinge espumea linha, Que em baixo lhe traçou a mão dos évos. Um pequeno areal loureja plaino Entre o salgado leito e o chão relvoso. Pela marina margem vagabundo, Eis Alp assoma dos sitiados muros Desviado não mais que quanto alcança Um tiro de clavina. Como é crivel Que alli não fosse visto, ou que evitasse O golpe hostil? Entre os Christãos acaso Remanecem traidores encobertos? Qual torpor lhes vincula as mãos agora? Qual gêlo os corações lhes paralisa? Tal brandura elle estranha; mas é certo Que de nenhum dos lanços lá do muro Escorva reluzio, sibilou bala, Se bem que tão de baixo agora avulte Dos bastiões minaces que flanqueão Essa porta, resguardo da cidade Pela banda do mar; se bem que possa Quasi as palavras distinguir ferrenhas, E os passos numerar da sentinella, Que sôão, indo e vindo compassados, Pela extensão da sotoposta lagem. Nem os cães, de occupados, lhe latírão! E, magros e famélicos rosnando, Os vê sob a muralha dar-se ao bôdo De sangrentos cadaveres e ossadas: Ei-los que estão da pelle despojando Nest'hora um craneo Tartaro, bem como Nós despojamos o recente figo; E alvejantes lhes rangem os colmilhos Sobre a caveira que inda mais alveja, E que dos queixos lhes resvala, quando Embotados os deixa o roer crebro; Mas vão moendo de vagar os ossos, Se um acaso permitte que não achem Sobre aquelle torrão melhor sustento. Seu antigo jejum quebrou-se á larga Nos guerreiros que alli perdendo a vida, Lhes são manjar em refeição nocturna. Pelos turbantes sobre a aréa esparsos, Alp a flor do seu bando reconhece; Bem nota o verde, o carmesim das telas Com que cingião por costume a fronte; E cada pericraneo off'rece a esguia Madeixa longa, e no demais é raso. Os pericraneos jazem na guela Feroz dos cães, ao passo que a madeixa Se lhes enreda em volta das queixadas. Lá se vê mais além, do golfo á orla, Sofrego abutre contender c'um lobo, Que, das montanhas a prear baixando, Era alli solitario, e não ousava, Dos cães espavorido, tomar parte No amplo repasto das humanas carnes; Mas engole a ração que lhe coubera D'um corsel debicado já das aves, Que da enseada no areal jazia. XVII. De tão feio espectaculo insoffrivel Arreda os olhos Alp: elle em conflictos O que era estremecer não soube nunca; Porém não é tão arduo, tão penoso Olhar ao que estendido se revolve Do proprio sangue em fumegante lago, E arqueja entregue á insaturavel sêde E ao vasquejar da morte, quanto é vê-lo Depois que pereceo, e é só cadaver. No momento fatal, um certo orgulho Se desenvolve n'alma do soldado, Lhe adoça o fim cruento: se fenece, Espera reviver na voz da Fama, Ficar bemquisto á Honra, que tem sempre Os olhos fitos no que morre affouto! Mas quando em fim s'esvaeceo tudo isto, Bem misero se sente quem percorre Campo alastrado d'insepultos mortos. Ao ver como da terra surde o verme, Deixa o bruto as florestas, a ave desce, E alli affluem, demandando no homem Todos quinhoar prêsa, e achando todos O lucro seu na decadencia d'elle. XVIII. Alli se via derrocado templo: São cinza e longo olvido as mãos que o erguêrão. Inda algumas columnas, e dispersos De marmore e granito mil fragmentos O sólo opprimem, recobertos d'herva. Inexoravel Tempo! e nunca inteiras Deixarás ao porvir obras passadas! Inexoravel Tempo! e has de tu sempre Querer que do passado fique apenas Aquillo que o presente affligir deve; E assim fazer-nos dolorosa a imagem Do que já foi, do que ha de ser um dia! Bem como nós, verão nossos vindouros, Em reliquias d'antigos monumentos, Só pedras que exalçou o homem de barro! XIX. Ao pé d'uma columna Alp eis se assenta: Co'a mão comprime a face, e o corpo inclina Como quem se resente acabrunhado D'aterradores pensamentos tetros; A cabeça descahe-lhe sobre o peito Excandescido, palpitante, oppresso; Girão-lhe pela fronte debruçada Os dedos velocissimos, bem como Pelo eburneo teclado os dedos girão De primoroso artista, que em preludios Por ora se entretem, da escôlha incerto. Vergando assim ao pesadume infenso, Crê que ouvio suspirar nocturna brisa. Acaso em lagens concavas murmura Gemido terno de macias auras? Ergue então a cabeça, e o mar observa;-- Repousa o mar, qual cristalino espelho: Contempla esguias hervas;--nada as move: D'onde procederia o som mavioso? Repara nas bandeiras;--quietos pendem No alto do Citherón, quaes os deixára, Inda os hasteados pannos; leve aragem Nem sequer lhe roçou a téz do rosto: Qual do imprevisto murmurinho a causa? Volve-se ao lado esquerdo:--será isto Illusão ou verdade? Ante seus olhos Eis joven dama refulgente assoma! XX. Se Alp então visse um inimigo armado Surgir-lhe face a face, não se erguêra Tão abalado de profundo assombro. "Deos de meus pais! que vejo? quem es? como D'hostís fileiras te aproximas tanto?" A mão tremente lhe recusa agora Estampar sobre a fronte essa Cruz mesma Que elle tanto insultou; mas n'este lance Se persignára, se a consciencia sua Lhe não fizesse ver quanto era indigno. Repara, observa a fundo, e reconhece O rosto bello, as engraçadas fórmas: É Francina, essa virgem suspirada Que elle a si pertendia unir consorte! Inda nas faces lhe viceja a rosa, Porém a rubra côr é menos viva. Que é do attractivo d'esses labios meigos? Não mora n'elles o sorrir donoso Que ao rubim dava esmalte. Inda em seus olhos Reside o azul do socegado oceano; Mas se no aspecto bonançoso o imitão, Também o imitão na frieza immovel. Talhe accusão gentil vestes ligeiras; Nada lhe vela o seio luminoso; Soltas d'ebano as tranças, ver não tolhem, Por entre a chuva dos anneis ondeantes, Nivea nudez dos torneados braços. Levanta ao alto a mão antes que falle; E de tal modo branca e transparente Se mostrava essa mão, que poderieis Ver por entre ella rutilar a lua. XXI. "O repouso deixei, a fim sómente De vir ao meu amado, e de fazê-lo Feliz commigo, e ser feliz com elle. Por teu respeito entre inimigas turmas Eis movo os passos, e transpuz a salvo Muralhas, portas, sentinellas, tudo. Uma joven donzella, em todo o brio Da nativa pureza, ha quem affirme Que dos proprios leões é respeitada: E o superno Poder que ao innocente Escuda contra o despota dos bosques, Se encarregou tambem de defender-me Do insulto d'infieis confederados; E vim:--se vim de balde, oh! vê que nunca, Nunca mais tornaremos a encontrar-nos! Sei que, abjurando de teus pais a crença, Es réo de crime hediondo; todavia Lança por terra esse turbante, e imprime Sobre a fronte o da Cruz signal divino, E eu de ti folgue na perpetua posse. Eia, o negro labéo expelle d'alma; E pois havemos ámanhã de unir-nos, Não queiras para sempre separar-nos." "E ao tóro nupcial onde acharemos O apetecido espaço? póde havê-lo Entre montões de mortos e expirantes? Os Christãos, seus altares, quanto é d'elles, Ha de o ferro ámanhã unido á chamma Tudo, tudo extinguir: nenhum mais deve, Senão es tu e os teus, ver nova aurora; Que eu assim o jurei. Mas ser-me-ha doce A mais donosos sitios transportar-te, Onde se enlacem mãos, se olvidem mágoas, Onde tu sejas a consorte minha, Quando abatido de Veneza o orgulho Eu já tiver; quando este braço, que ella Quiz sumir na abjecção, deixe açoutados Com viperino látego os infames Que accendeo contra mim o vicio e a inveja." Ella pousou a mão sobre a mão d'elle: Foi leve o toque, mas varou-lhe prompto As medullas dos ossos, e entranhou-lhe Pelo imo coração gêlo indizivel, Que nem d'estremecer lhe deixou posses; E este frio mortal, de que se arguia, Removê-lo de si em vão tentava. Oh! nunca, nunca de tão caro objecto Partíra movimento que viesse Com tamanho terror gelar-lhe o sangue, Qual n'esta noite o subitaneo toque D'aquelles alvos dedos alongados. Morreo-lhe em pallidez a effervescencia, Ficou-lhe o coração, qual seixo, immovel, Ao ver aquelle rosto, ai! tão mudado Já de si proprio: bello, mas languente-- Sem vestigio nenhum d'incendios d'alma, Que em cada feição d'elle se espelhavão, Como um dia de sol se espelha n'agua. Anhélito nenhum se unia ás vozes Que lhe escapavão dos immotos labios; Do quieto coração nenhum palpite Lhe sublevava o seio; nada havia Que a rigida attenção interrompesse D'aquelles olhos estacados, fixos. Taes são os do somnambulo, que, em meio D'anciados sonhos, deixa o leito e vaga; Taes, na extensão de apainelados razes, Baças figuras de minaz aspecto, Se ao trémulo clarão as contemplamos D'expirante lucerna, desenvolvem Não sei qual mixto de animado e morto, Com que parecem, aterrando a vista, Ora avançar do tenebroso fundo, Ora entranhar-se n'elle, em moto alterno, Que a seu sabor lhes communica o vento. "Se por amor de mim tu crês que é muito, Por amor só do Ceo embora o faze: Longe arremessa (inda outra vez to digo) Da fronte criminosa esse turbante, E me promette de não ser infesto Aos filhos da insultada patria tua, Ou es perdido, e despedir-te deves, Não já da Terra--esvaeceo-se a Terra-- Mas do Ceo e de mim, que te fui cara. Eia, cede a meus rogos: vê que abertas Inda te esperão da clemencia as portas; E bem que contra ti grave sentença Fosse já proferida, o rigor d'ella Em grande parte expiará teu crime. Pondera a fundo; e provocar não queiras A maldição d'Aquelle que abjuraste. Ao Ceo inda uma vez levanta os olhos, Vê que a ti mesmo para sempre o fechas. Essa nuvem que esconde agora a lua, Lá vai passando, e passará de pressa: Se, quando rebrilhar o disco inteiro Desafrontado do vapor sombrio, Não revolveo a contrição teu peito, Ficão de ti vingados Deos e os homens: Tremendo fim terás, e mais tremenda Te espera a eternidade dos perversos." Alp ergue a vista ao Ceo, e reconhece O indicado signal; porém o orgulho Entumeceo-lhe o coração, e o rege Com despotico imperio inabalavel; E esta paixão fallaz que o predomina, É torrente caudal que tudo alaga. Elle implorar perdão! elle render-se A impertinencias de mesquinha virgem! Elle, offendido de Veneza ingrata, Poupar-lhe os filhos, que votou á morte! Não:--embora essa nuvem traga um raio, Embora um raio o esmague:--e inda não trôa? Sem que a minima voz dos labios solte, Elle fitava ancioso aquella nuvem: Attento a vê passar; fugio de todo: Em seu pleno fulgor se mostra a lua. "Qualquer que seja o meu destino (exclama), Não tenho de mudar: agora é tarde. No meio da tormenta póde a canna Dobrar-se e logo erguer-se, os troncos quebrão. Qual Veneza me fez, serei já'gora; Seu implacavel inimigo em tudo, Excepto na affeição que eu te consagro. Tu pois es salva: oh! vem, meus passos segue." Voltando-se, elle a busca; ella sumio-se: Só o antigo pilar lhe avulta ao lado. Sorveo-a a terra, ou s'esvaío nos ares? Nada elle vio--nada escutou só sabe Que alli nenhum vestigio existe d'ella. XXII. A noite dissipou-se, e o sol resplende, Qual se um dia de festa esclarecesse. Eis d'entre bruscos véos pomposa surge Arraiada a manhã d'aureos fulgores, E abrasador promette o meio-dia. Trombetas se ouvem, rufos de tambores, Hórridos sons de barbara corneta, Sussurrar de bandeiras fluctuantes, Relinchar de corseis, tropear de turmas, E o retinir das armas, e o alarido: "Ei-los vem! ei-los vem!" Da terra prestes Descravão-se os pendões equi-caudatos, Desnudão-se as espadas lampejantes, E tudo a entrar em fórma apercebido, Só depende da voz, e a voz já sôa: = Tartaros, e Spahís, e Turcomanos, As tendas abatei, ide á vanguarda, Dai d'espora aos corseis, e na planicie Seja cortado o passo aos fugitivos, Quando estes proromperem da cidade: Não escape nem velho nem mancebo, Que offrecer de Christão qualquer indicio. Entretanto que em massa prepotente Vão sustentar os camaradas vossos A ensanguentada brecha, e entrar por ella. = Já o fogoso corsel remorde o freio, E arquea o collo, e, sacudindo a crina, As redeas tinge d'alvejante espuma: Estão em riste as lanças, e flammejão Accesos os murrões, e em continente O assestado canhão vai despejar-se Com estampido horrísono, e as muralhas, Rôtas em frente, esboroar de todo. Na phalange os Janizaros entrárão: Alp os commanda; e a cimitarra nua No erguido braço nu sustenta e brande. Kans e Bachás fixárão-se em seus postos; E ei-lo á frente da hoste se apresenta Em pessoa o Visir.--Tanto que a senha Troar na disparada colubrina, Tudo em Corintho será ruina e morte: Não ficará um sacerdote ás aras, Nem um chefe no centro das familias, Nem fôlgo vivo que as mansões povôe, Nem sequer uma pedra sobre os muros. "Deos e o Profeta seu! _Allah-Hu!_"--Sobe Té ás estrêllas o feroz ulúlo! "Lá tendes, para entrar, aberta a brecha; E escadas não vos faltão: tambem todos N'essas robustas mãos sustentais armas; E como ha de falhar-vos o triunfo? D'entre vós o primeiro que se affoute Á arrancar a vermelha Cruz hasteada, Póde franco pedir quanto apetece Com mais vehemente ardor: supplique e obtenha." Tal se exprimio Coumourgi, o Visir bravo. Foi resposta o brandir d'espadas, lanças, Com mil acclamações de raiva alegre.-- Silencio!--á senha estai attentos!--fogo! XXIII. Como quando esfaimados ruem lobos De chofre sobre o bufalo soberbo, Sem tremerem da tórva catadura, Do mugir fero, do escavar das plantas, Nem dos minaces cornos assestados; E elle ou lança por terra ou ergue aos ares Os primeiros que accessos o acommettem, Mas que no cego arrôjo a morte encontrão: Assim o Musulmano invade os muros, E no impeto primeiro é repellido. Alli rôtos do bellico granizo, Dispersos como vidro espedaçado, Quantos de bronze acobertados peitos Ora juncando a terra, d'onde nunca Se hão de levantar mais! Estão fileiras Inda alinhadas, quaes na queda o estavão; Jaz dos mais destemidos copia grande: Tal, quando o dia é findo, e o labor cessa, Vemos jazer sobre aplainados campos A herva que o segador deixou ceifada. XXIV. Bem como, em viva preamar, se observa D'algosos escarcéos batida rocha, E já minada dos diuturnos éstos, Soltar enormes lascas alvejantes, Que com fragor horrísono se abatem, Assemelhando ao torreão de gêlo Que Alpinos valles despenhado aterra: Assim os de Corintho habitadores, A final quebrantados, exhauridos, Forão na ruina atroz precipitados Pelo acintoso impulso recrescente Das cerradas cohortes Musulmanas. Elles insistem firmes, e, na queda, O furor do Infiel os prostra em massa. Pelejão braço a braço, e planta a planta; E nada, excepto a morte, alli é mudo: Impetos, golpes, empuxões, clamores Ou a pedir quartel, ou de victoria. Reunidos ao troar increbescente Dos bellicos trovões, e ao temeroso Estrondo da batalha encarniçada. Lá vão disseminando susto immenso Por longinquas cidades, d'igual modo Que se estivessem sob o golpe infesto, E já dentro o inimigo as depredasse; Não d'outra sorte que se proprio fôra A excitar sensação ou triste ou leda Aquelle som que anniquilar só sabe, E que, varando dos soturnos montes As entranhas durissimas, se expande Em pavorosos écos desusados: Lá os ouvio Megára e Salamina, E, se não exaggera a voz do vulgo, Té na enseada do Pirêo troárão. XXV. Em rijo e solto embate retinindo, Sabres, espadas, desde a ponta aos copos, Gotejão sangue; mas entrados forão Os muros já, e eis principia o saque, E apóz elle a feroz carnificina. Rompe dos edificios depredados Medonha confusão de agudos gritos: Escuta quão velozes na fugida Vão pés escorregando em quente sangue, Que as ruas deixou lúbricas: no em tanto Aqui e além, onde o terreno offreça Contra o fero invasor qualquer vantagem, Onde algum lanço de parede ou muro Lhes proteger as costas, então elles, Aos dez, aos doze, em mal parados grupos, Logo alli fazem alto,--alli renovão Desesperada briga audazes, firmes, Ou co'as armas na mão perecem todos. Eis a pé firme um ancião lá surge;-- De cãs lhe alveja povoada a fronte; Porém vigor pujante lhe robora O veterano pulso: não se altera Seu bisarro denôdo, entre o bulicio Do revôlto brigar; tem por trincheira Semicirculo espêsso d'inimigos, Que hoje uns sobre outros apinhava mortos; Ferve em dura peleja não ferido, E sabe retirar-se não cercado. Sob a loriga refulgente esconde Dos certames d'outr'ora as cicatrizes Innumeraveis; que de toda a especie, E o corpo inteiro lhe crivárão golpes. Em despeito d'aquella ancianidade, É de tão ferreos membros, que difficil Fôra d'igual jaêz achar-se um môço: E os inimigos, que empatados tinha, Pullulavão-lhe alli mais numerosos Que as prateadas cãs da fronte altiva; Mas apoucando-os vai a forte dextra. Muitas mãis Othomanas pranteárão Filhos que, quando pela vez primeira Elle a espada tingio em sangue Turco, Inda não erão nados, e hoje expirão Antes de perfazerem lustros quatro. Bem poderá elle ser o avô de quantos N'este dia immolou ás iras suas: Vingando um filho que perdêra ha muito, Vai dos contrarios seus matando os filhos: E desde quando o desvelado joven, Unica prole varonil que tinha, Morreo a combater no undoso estreito Que d'Asia o chão divide do d'Europa, Logo o pai prometteo sacrificar-lhe Sanguinosa hecatombe d'inimigos, Ceifada ao golpear do ferreo braço. Se o morticinio pacifica as sombras, Nem mesmo de Patroclo aos manes coube Júbilo igual ao que sentir devião Os do joven Minotti. Sepultado Ficou seu corpo nas oppostas praias, E ora privados de sepulcro n'estas Cá ficão mil para milhares d'annos. Qual d'elles escapou que referisse Como os outros morrêrão, e onde jazem? Lousa nenhuma os cobre, não lhes guarda Nenhum tumulo as cinzas: entretanto Vivem e vivirão no immortal plectro. XXVI. Qual clamoroso _Allah!_--um terço avança De tropa Musulmana a mais affouta, E de pulso melhor: vai-lhe na frente, Nervoso, nu té o hombro, e em moto ondeante Brandindo o ferro, e sobranceiro a todos, Do commandante o braço, que expedito Sabe ferir, e perdoar não sabe.-- Outros embora em mais pomposo traje, D'espolio ao inimigo a sêde ateem; Sejão embora muitos os que empunhão D'aureo lavor custosas cimitarras, Que de nenhuma escorre tanto sangue; Ostentem muitos adornada a fronte De turbantes mais altos, mais airosos;-- Alp é só conhecido por aquelle Braço nu, que branqueja levantado. Ei-lo campea onde mais arde a briga! Não se arvorou pendão sobre estas praias Que mais destro as fileiras anteceda; Jámais, durante a Musulmana guerra, Se despregou bandeira que attrahisse De tão longe os Delhís: sempre o distinguem A lampejar como cadente estrêlla! Onde quer que este braço prepotente Uma vez se mostrou, logo os mais bravos Surdem todos alli, ou tarde chegão; Alli quartel o ignavo em vãos clamores Ao vingativo Tartaro supplica; Alli o heróe, no chão deitado e mudo, Nem quer que quando morre um ai lhe escape, E inda com tibio golpe derradeiro Invade o antagonista, que não menos A par de si prostrou; e bem que expire Tão alquebrado das feridas mutuas, Raivando afferra o ensanguentado sólo. XXVII. O ancião, persistindo inabalavel, Oppôr consegue momentaneo estôrvo D'Alp á carreira atroz.--"Cede, Minotti: Salva todos os teus, attende á filha." --"Nunca o verás, vil renegado, nunca! Nem tinha eu de annuir inda que fosse Vida eterna essa vida que me off'reces." --"E Francina!--e a futura minha noiva! Queres, assim teimoso resistindo, Ser tambem causador da morte d'ella?" --"Ella está mui a salvo."--"Onde? em que sitios?" --"No Ceo, d'onde banida para sempre Foi tu'alma aleivosa,--e onde Francina Vive longe de ti, vive sem mancha." Alp, a taes vozes, titubante, anciado, Fica não d'outra sorte que se o peito Lhe traspassasse truculento golpe; E de Minotti despontou nos labios Irónico sorriso de vingança. "Oh Deos! quando expirou?"--"Inda esta noite; Mas do espirito seu não choro a ausencia, Antes fólgo de ver que cá não deixo D'esta minha linhagem nobre e pura Ninguem que haja de ser misero escravo De Mafamede ou teu. Anda, acommette!" Baldado desafio! Alp é já morto. Ao tempo que Minotti lhe vertia N'aquellas expressões criminadoras Todo o fel da vingança, e que mais cruas Que a propria ponta de buído alfange Ellas varavão Alp, eis vôa o golpe D'um templo não distante, defendido Com incriveis primores de firmeza Por esse dos Christãos ultimo resto, Que tão minguado e d'esperança exhausto, Inda de lá fazia esforços grandes Para o combate restaurar fallido: E antes de descobrir d'onde assestada Lhe foi a lethal bala sibilante, Alp o cerebro tem varado d'ella, E voltea, e vacilla, e cahe por terra: Lampejou-lhe ante os olhos clarão debil, Quando vergou para não mais erguer-se, Ficando apenas palpitante tronco, Que ei-lo envolvido jaz na noite eterna. N'elle indicio não ha que vida inculque, Salvo o tremor dos membros onde o tiro Deixou menor estrago. A ponto acodem, E de costas o estendem: rosto e peito Lhe estão manchados de poeira e sangue, E jorra-lhe da boca o vital fluido, Que as cavernosas veias desampara; Mas não lateja o pulso, não se escuta Nos labios murmurar-lhe o arranco extremo; Nem sequer um suspiro, uma palavra, Um penoso arquejar, lhe assignalárão O transito fatal da vida á morte. Antes que o pensamento levantasse Em súpplica contrita, réo nefando, Se apresenta aos umbraes da eternidade, Sem que ao perdão celeste aspirar possa, E na vida e na morte--Renegado. XXVIII. Então d'um lado e d'outro aos ares sobe Espantoso alarido retumbante: Aqui, de regozijo; além, de raiva. Eis de novo travadas em conflicto Espadas de Christãos e Turcas lanças Embatem com furor, mutuão golpes, Estendendo no pó guerreiros muitos. Ousa, de rua em rua e passo a passo, Minotti disputar aos inimigos Qualquer porção restante do terreno Que ao seu bravo commando fôra entregue: Ao lado, a reforçar-lhe audacia e pulso, As sobras tem da guarnição briosa. Resistencia tenaz off'rece o templo, D'onde predestinada veio a bala Que em grande parte despicou Corintho, Morto Alp, o mais feroz de seus contrarios Para alli recuando sem desvio, Deixando diante ensanguentado rasto, E os inimigos encarando sempre, E nunca sem matar vibrando um golpe, O chefe e o seu cortejo, em retirada, Conseguem reunir-se aos que occupavão A sacra estancia: no recinto d'ella Inda lhes cabe respirar um pouco, Das maciças paredes escudados. XXIX. Remanso bem mesquinho! Os Musulmanos, De pujante refôrço abastecidos, Borbotando furores e ufania, Tão cerrados, tão férvidos avanção, Que o número lhes tolhe a retirada: Dest'arte se atravancão no caminho Que vai ao templo, onde os Christãos não sabem O que é render-se; e os batalhões infestos Tanto apinhão-se á frente, que, inda quando Lavrasse o susto alli, nenhum podéra Por entre as fortes massas escoar-se: Ou vencer ou morrer lhes era fôrça. Morrem; mas sobre os corpos palpitantes Lhes surgem de repente os vingadores. Que, frescos e raivosos pullulando, As filas, sempre rôtas, enchem sempre; E os Christãos affadigão, extenuão, Violentas amiudando as investidas: E ei-los agora os Infieis assomão Junto ao sacro portal. Por longo espaço A ferrea contextura inda resiste, Inda de cada fresta vôão tiros, Todos bem assestados, mortaes todos; E de cada janella se desatão Em chuveiro as sulfureas alcanzias. Mas já fraqueão as nutantes portas-- Vérgão rangendo os quicios, cede o ferro,-- Lá pendem--lá se abatem já cahírão: Não mais resistirá, morreo Corintho! XXX. Soturno, sem que o vejão, só comsigo, Ao altar arrimado está Minotti. D'um painel sobranceiro, a Virgem santa O affavel rosto fúlgido lhe volve, Transumpto de celeste colorido, Onde os olhos são luz, amor o aspecto; E na ara collocado a fim que possa Dos humanos fixar o pensamento Sobre as cousas do Ceo, quando elles orão Devotos, genuflexos ante a imagem D'esta Mãi admiravel, que em seu gremio Sustem e affaga o Redemptor-menino, E com sorrisos acolhendo meigos Uma por uma as fervorosas preces, Como que ao Ceo de transferi-las cuida. Sorrindo sempre, inda sorrí agora, Em despeito da atroz carnificina, Do sangue em jôrros que deturpa as naves. Eleva então Minotti os olhos lassos, E, exhalando um suspiro, se persigna; Logo alli d'uma tocha que era accesa Ei-lo se apossa, e permanece firme, Em quanto os Musulmanos irruindo, Desenvolvendo á larga ferro e fogo, Hórridos enchem a mansão sagrada. XXXI. Sob a lagem que o vasto pavimento Recompunha em mosaico variada, Subterraneas abobadas se arqueão. Jazigo aos mortos das passadas eras: Em memorandas lápidas incisos Lião-se os nomes seus, que ler não deixa Ora o sangue que os cobre: aqui não menos Vião-se, honrando as cinzas, esculpidos Timbres, emblemas de lavor prestante, Marmores luzidíos, de vistosas Multicolores veias serpeados,-- Que, sórdidos já hoje, se baralhão Com fragmentos d'espadas, de montantes. Com morriões e arnezes abolados, Confuso mixto que por cima avulta D'innumeraveis ataúdes, onde Enfileirados os defunctos dormem: Podes vê-los em lugubre apparato, Ao macilento albor que inda os visita Por fisgas breves de sombrias grades. Mas nem por isso desistio a Guerra D'entrar por estas lobregas cavernas, Com tórva profusão disseminando Das sepulcraes abobadas ao longo Seus thesouros sulfureos, que se elevão Empilhados em massas volumosas Junto dos resequidos esqueletos. Aqui, durante o cêrco, havião feito Seu paiol os Christãos: longo rastrilho, Desde agora entornado, se encaminha Do templo a estes sitios; e eis o extremo Recurso inabalavel de Minotti Contra o poder das irruentes turmas. XXXII. O inimigo enche tudo; e poucos tentão Inda arrostá-lo, ou mui de balde o arrostão. Elle, á falta de vivos, vai nos mortos Saciar da vingança a voraz sêde, Que exacerbou-se agora; elle os invade Com sacrilegos golpes, e decepa Cabeças já finadas, e dos nichos As estatuas despenha baqueantes, E as aras despe d'oblações opimas, E co'as callosas mãos profanadoras O argento empolga dos sagrados vasos. Chegada apenas a caterva infrene Ante o altar principal, detem-se e pasma: Oh qual o adorna resplandor pomposo! Sobre a pedra lhe surge bem patente O consagrado Caliz, ouro estrême, Prêsa que enleva os depredantes olhos, A fulgurar maciça e ponderosa: Hoje conteve o sacrosanto vinho, Que Christo em sangue seu mudar dignou-se, E com que, ao romper d'alva, os seus cultores, Antes de pelejar, fortalecêrão As almas ao dever e ao Ceo votadas: Inda no fundo remanecem gotas; E tambem, circumdando a sacra mesa, Em symetria esplendida dispostas, Ardem lampadas doze d'ouro fino: Este o mais opulento e ultimo espolio. XXXIII. Apinhão-se alli todos; e o que estava Da prêsa mais visinho, faz-se avante, E quasi quasi que a empolgava, quando O longevo Minotti applica a tocha Ao rastrilho fatal;--ei-lo se inflamma! Campanarios, abobadas, altares, Espolio, vivos, mortos, moribundos, Christãos vencidos, Turcos vencedores, E o templo esboroado, e quanto ha n'elle, Se ergue aos ares com hórrido rebombo, E finda envôlto na explosão terrivel! A cidade abalada--o chão coberto D'edificios, de muros demolidos-- As ondas que recuão, de assustadas-- Os montes, senão rôtos, vacillantes, Como se os sacudisse um terremoto-- De milhares d'objectos mixto informe Que os Ceos toldando vai de fogo e fumo. Ao rebentar da horrítona lufada-- Não cessão de apregoar que n'estas praias, Ha longo tempo, afflictas, terminou-se Dos combates o mais desesperado. Como accesa em girandolas festivas, Lá roça os astros a confusa mole. Varões não poucos d'estatura ingente, D'apparencia gentil, ora abrasados, Curtos como pigmeos, descem dos ares, Em torrado carvão juncando a terra. Grossa chuva de cinzas se despenha: Muitas recebe o golfo, e, ao recebê-las, Fórma em tôrno escarcéos, que se desfazem N'um progresso de circulos undosos; Muitas recebe a praia, e vão, por longe Disseminadas, recobrir todo o isthmo: São cinzas de Christãos ou d'Othomanos? Suas mãis se aproximem, venhão vê-las, E digão se as conhecem!--Por ventura Houve alguma de vós, ó desgraçadas, Que quando aos peitos lhe pendia o filho, Ou no embalado berço o adormentava, E, sorrindo d'amor, se comprazia N'aquelle brando repousar donoso, Ai! houve alguma então que nem por sombras Esperasse este dia, ou ver dispersos Da cara prole os lacerados membros? Nem sequer, nem sequer as extremosas Matronas que no ventre os alojárão Estremar sabem os nascidos d'ellas; Um só momento lhes tirou de todo Fórma e semblante d'homens; resta apenas Algum disperso pericraneo ou osso. Barrotes, vigas flammejantes descem, E em redor se derramão; vem cahindo Engastadas em barro infindas lagens, Que o sólo opprimem fumegantes, negras. Todo o vivente a quem troou no ouvido O abalo estragador, pregão de morte, Ou jazeo ou sumio-se: espavoridas O vôo affastão carniceiras aves; Bravíos cães vão-se arredando em uivos, Nem se lhes dá dos insepultos mortos; O camelo as prisões deixou quebradas; O touro, ao longe, se desfez do jugo; O corsel, que o fragor ouvio de perto, Rompendo a silha, espedaçando as redeas, A galope alongou-se pelo plaino; As incolas dos charcos lutulentos, Alçando a boca sobremodo aberta, Clamor soltárão importuno em dôbro; Uivárão pelas furnas das montanhas Os lobos, quando alli a trovoada Em écos retroou; lá mui distantes, As alcatéas dos jakaes bramírão Com mixto som, que, lamentoso e agudo, Ora imitava criancinha em chóros, Ora lebréo ganindo fustigado: Esbaforida accelerando os vôos, A aguia desamparou a rocha alpestre, Onde aquecia o ninho, e remontou-se Mais proxima do sol, achando crassas Em demasia as sotopostas nuvens, Que vinhão, d'atro fumo conglobadas, Roçar-lhe o bico amedrontado, hiante, Mais e mais excitando-a a sublimar-se, E o grito a reforçar.--Eis de qual modo Conquistada e perdida foi Corintho. FIM. NOTAS ABREVIADAS. NOTAS ABREVIADAS. II.--_vers._ 14. Dando de mão á grei, o Turcomano Prestes unio ao lado a cimitarra. Domiciliados debaixo de tendas, vivem estes povos uma vida patriarcal. V.--_vers._ 1. Coumourgi--aquelle etc. Ali Coumourgi, valido de tres sultões, e grão visir de Achmet III, havendo retomado em uma só campanha o Peloponeso aos Venezianos, foi, no seguinte anno, mortalmente ferido na batalha de Peterwaradin, quando forcejava para reunir suas tropas. XVI.--_vers._ 4. Coarctados e sem ésto, aquelles mares Em moto igual ondeão sempiternos. É talvez desnecessario recordar ao leitor que o movimento do fluxo não é visivel no Mediterraneo. Ibi--_vers._ 42. Ei-los que estão da pelle despojando Nest'hora um craneo Tartaro, etc. Este espectaculo, qual o descrevo, foi por mim presenciado sob os muros do serralho de Constantinopla; e os cadaveres erão talvez os de alguns Janizaros rebeldes. Ibi--_vers._ 59. E cada pericraneo off'rece a esguia Madeixa longa, etc. Crêm os Musulmanos que o seu Mafôma, no ponto de transferi-los ao Paraiso, os tomará por esta madeixa; e, firmados sobre tão supersticioso fundamento, a deixão crescer. XXI.--_vers._ 94. Essa nuvem que esconde agora a lua, Lá vai passando, etc. Este pensamento não é original, por quanto deparei com elle na versão ingleza de Vathek. XXII.--_vers._ 11. ---------- Da terra prestes Descravão-se os pendões equi-caudatos. De uma cauda de cavallo, fixa no alto de uma lança, são compostos os pendões dos Bachás. XXV.--_vers._ 51. Morreo a combater no undoso estreito Que d'Asia o chão divide do d'Europa. Na batalha naval que os Venezianos travarão com os Turcos á entrada dos Dardanellos. FIM DAS NOTAS. * * * * * P. S. _Escrevemos accentuada e sem_ h _a 3.ª pessoa do singular no indicativo presente do verbo substantivo ser, e igualmente sem_ h _o adjectivo numeral um, por nos parecerem terminantes as razões em que é fundado este uso. Por certo que nem sempre adherimos á opinião de nossos Grammaticos e Diccionaristas modernos, com quanto sejão alguns de reconhecida erudição; e em meia duzia de paginas, que talvez publicaremos, hão de apparecer indicados os pontos e expendidos os motivos d'esta divergência. Pelo que toca á exactidão typografica do Poema que apresentamos traduzido, empregou-se ahi mui boa diligencia: é pois de presumir que será leve e de facil emenda o defeito que ainda remanecer._ End of the Project Gutenberg EBook of O Cerco de Corintho, poema de Lord Byron, traduzido em verso portuguez, by George Gordon Byron *** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK O CERCO DE CORINTHO, POEMA *** ***** This file should be named 33592-8.txt or 33592-8.zip ***** This and all associated files of various formats will be found in: https://www.gutenberg.org/3/3/5/9/33592/ Produced by Pedro Saborano Updated editions will replace the previous one--the old editions will be renamed. Creating the works from public domain print editions means that no one owns a United States copyright in these works, so the Foundation (and you!) can copy and distribute it in the United States without permission and without paying copyright royalties. Special rules, set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. Project Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you charge for the eBooks, unless you receive specific permission. If you do not charge anything for copies of this eBook, complying with the rules is very easy. You may use this eBook for nearly any purpose such as creation of derivative works, reports, performances and research. They may be modified and printed and given away--you may do practically ANYTHING with public domain eBooks. Redistribution is subject to the trademark license, especially commercial redistribution. *** START: FULL LICENSE *** THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free distribution of electronic works, by using or distributing this work (or any other work associated in any way with the phrase "Project Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project Gutenberg-tm License (available with this file or online at https://gutenberg.org/license). Section 1. General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm electronic works 1.A. By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to and accept all the terms of this license and intellectual property (trademark/copyright) agreement. If you do not agree to abide by all the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession. If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8. 1.B. "Project Gutenberg" is a registered trademark. It may only be used on or associated in any way with an electronic work by people who agree to be bound by the terms of this agreement. There are a few things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works even without complying with the full terms of this agreement. See paragraph 1.C below. There are a lot of things you can do with Project Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic works. See paragraph 1.E below. 1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation" or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the collection are in the public domain in the United States. If an individual work is in the public domain in the United States and you are located in the United States, we do not claim a right to prevent you from copying, distributing, performing, displaying or creating derivative works based on the work as long as all references to Project Gutenberg are removed. Of course, we hope that you will support the Project Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with the work. You can easily comply with the terms of this agreement by keeping this work in the same format with its attached full Project Gutenberg-tm License when you share it without charge with others. 1.D. The copyright laws of the place where you are located also govern what you can do with this work. Copyright laws in most countries are in a constant state of change. If you are outside the United States, check the laws of your country in addition to the terms of this agreement before downloading, copying, displaying, performing, distributing or creating derivative works based on this work or any other Project Gutenberg-tm work. The Foundation makes no representations concerning the copyright status of any work in any country outside the United States. 1.E. Unless you have removed all references to Project Gutenberg: 1.E.1. The following sentence, with active links to, or other immediate access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed, copied or distributed: This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included with this eBook or online at www.gutenberg.org 1.E.2. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived from the public domain (does not contain a notice indicating that it is posted with permission of the copyright holder), the work can be copied and distributed to anyone in the United States without paying any fees or charges. If you are redistributing or providing access to a work with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or 1.E.9. 1.E.3. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted with the permission of the copyright holder, your use and distribution must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional terms imposed by the copyright holder. Additional terms will be linked to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the permission of the copyright holder found at the beginning of this work. 1.E.4. Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm License terms from this work, or any files containing a part of this work or any other work associated with Project Gutenberg-tm. 1.E.5. Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this electronic work, or any part of this electronic work, without prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with active links or immediate access to the full terms of the Project Gutenberg-tm License. 1.E.6. You may convert to and distribute this work in any binary, compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any word processing or hypertext form. However, if you provide access to or distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than "Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org), you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other form. Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm License as specified in paragraph 1.E.1. 1.E.7. Do not charge a fee for access to, viewing, displaying, performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9. 1.E.8. You may charge a reasonable fee for copies of or providing access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided that - You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method you already use to calculate your applicable taxes. The fee is owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he has agreed to donate royalties under this paragraph to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation. Royalty payments must be paid within 60 days following each date on which you prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax returns. Royalty payments should be clearly marked as such and sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the address specified in Section 4, "Information about donations to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation." - You provide a full refund of any money paid by a user who notifies you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm License. You must require such a user to return or destroy all copies of the works possessed in a physical medium and discontinue all use of and all access to other copies of Project Gutenberg-tm works. - You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the electronic work is discovered and reported to you within 90 days of receipt of the work. - You comply with all other terms of this agreement for free distribution of Project Gutenberg-tm works. 1.E.9. If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm electronic work or group of works on different terms than are set forth in this agreement, you must obtain permission in writing from both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark. Contact the Foundation as set forth in Section 3 below. 1.F. 1.F.1. Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread public domain works in creating the Project Gutenberg-tm collection. Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic works, and the medium on which they may be stored, may contain "Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by your equipment. 1.F.2. LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all liability to you for damages, costs and expenses, including legal fees. YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE PROVIDED IN PARAGRAPH 1.F.3. YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH DAMAGE. 1.F.3. LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a written explanation to the person you received the work from. If you received the work on a physical medium, you must return the medium with your written explanation. The person or entity that provided you with the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a refund. If you received the work electronically, the person or entity providing it to you may choose to give you a second opportunity to receive the work electronically in lieu of a refund. If the second copy is also defective, you may demand a refund in writing without further opportunities to fix the problem. 1.F.4. Except for the limited right of replacement or refund set forth in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE. 1.F.5. Some states do not allow disclaimers of certain implied warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages. If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by the applicable state law. The invalidity or unenforceability of any provision of this agreement shall not void the remaining provisions. 1.F.6. INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance with this agreement, and any volunteers associated with the production, promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works, harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees, that arise directly or indirectly from any of the following which you do or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause. Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg-tm Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of electronic works in formats readable by the widest variety of computers including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from people in all walks of life. Volunteers and financial support to provide volunteers with the assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will remain freely available for generations to come. In 2001, the Project Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations. To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4 and the Foundation web page at https://www.pglaf.org. Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit 501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at https://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent permitted by U.S. federal laws and your state's laws. The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S. Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered throughout numerous locations. Its business office is located at 809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact information can be found at the Foundation's web site and official page at https://pglaf.org For additional contact information: Dr. Gregory B. Newby Chief Executive and Director gbnewby@pglaf.org Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide spread public support and donations to carry out its mission of increasing the number of public domain and licensed works that can be freely distributed in machine readable form accessible by the widest array of equipment including outdated equipment. Many small donations ($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt status with the IRS. The Foundation is committed to complying with the laws regulating charities and charitable donations in all 50 states of the United States. Compliance requirements are not uniform and it takes a considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up with these requirements. We do not solicit donations in locations where we have not received written confirmation of compliance. To SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any particular state visit https://pglaf.org While we cannot and do not solicit contributions from states where we have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition against accepting unsolicited donations from donors in such states who approach us with offers to donate. International donations are gratefully accepted, but we cannot make any statements concerning tax treatment of donations received from outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff. Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation methods and addresses. Donations are accepted in a number of other ways including including checks, online payments and credit card donations. To donate, please visit: https://pglaf.org/donate Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic works. Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm concept of a library of electronic works that could be freely shared with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support. Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S. unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily keep eBooks in compliance with any particular paper edition. Most people start at our Web site which has the main PG search facility: https://www.gutenberg.org This Web site includes information about Project Gutenberg-tm, including how to make donations to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.